Ninguém jamais passou uma noite sem sonhar. Ainda que, pela manhã, ao acordar, eventualmente você não se lembre de ter sonhado, os sonhos povoam a sua mente durante o sono. Há, todavia, ocasiões em que se tornam tão reais que sua lembrança permanece na memória por semanas. Depois se esvaem da memória e são substituídos por novos sonhos. E assim vai.
O que são os sonhos? Eles se definem como fenômenos psíquicos que ocorrem independente da vontade, trazendo à superfície coisas que ficaram esquecidas no subconsciente, desejos ocultos que insistem em tomar a forma da realidade quando se está dormindo, e tornando-se, em diversos casos, o desaguadouro emocional de idealizações que jamais alcançam o terreno da existência. Muitos, no entanto, são considerados premonitórios e estariam alertando para situações que acabariam ocorrendo.
Casos assim permitem que se pergunte: Deus fala através de sonhos ou eles se restringem apenas à psique, sendo mera coincidência quando acontecimentos singulares parecem lhes dar significado existencial?
A promessa do derramamento do Espírito Santo nos últimos dias, feita através do profeta Joel (Jl 2.28-32), traz implícita a ideia de que sonhos são recursos à disposição de Deus para instruir, alertar, orientar e confortar o homem. No dia de pentecostes, ao aludir ao mesmo vaticínio para sustentar a experiência vivida no cenáculo pelos primeiros crentes, Pedro reporta-se também aos sonhos como parte da realidade pentecostal, At 2.17-21.
Diversos fatos bíblicos apontam na mesma direção. Vejamos o Antigo Testamento. Quando Deus usa Jeremias para condenar aqueles que apregoam mentiras, deixa subentendido, por outro lado, que o profeta tem revelação em sonhos, Jr 23.25-28. Os sonhos de José, na sua adolescência, cumpriram-se mais tarde ao tornar-se primeiro ministro da civilização mais avançada da época, Gn 37.5-11; 41.14-47. Daniel teve confirmado o sonho de Nabucodonosor quanto a sucessão de impérios mundiais da mesma forma: através de sonho, Dn 2.1-49; 7.1-28.
No Novo Testamento, cenas semelhantes se repetem. Após tomar conhecimento da surpreendente notícia de que, sem tê-la desposado, Maria seria mãe de um bebê, José só não se apartou dela porque um anjo, através de sonho, prestou-lhe todos as informações sobre o fato, Mt 1.19-25. Para fugir da matança ordenada por Herodes contra os recém-nascidos, os pais de Jesus foram orientados em sonho a esconder-se no Egito. Cessada a perseguição, os meios pelo quais souberam que estava na hora de retornar a Israel foram sonhos, Mt 2.13,19,20-23. Ainda que a Bíblia não o declare de modo explícito, as entrelinhas do texto sugerem que a visão de Paulo sobre o grande salto do Evangelho para a Europa tenha sido através de sonho, At 16.9,10.
Como se vê, os sonhos estiveram por trás de grandes eventos bíblicos. Se eles não tivessem importância, as Escrituras não os vincularia de forma tão enfática a fatos que mudaram, inclusive, o curso da história. Mas isto não significa que todos os sonhos sejam proféticos ou que esta seja a forma usual de Deus falar ao ser humano. Eles são apenas um dos diversos meios que o Pai usa para dar a conhecer os seus mistérios. Isso significa que o discernimento é vital para identificar quando os sonhos vêm de Deus, são fruto da interferência maligna ou situam-se apenas no campo específico dos fenômenos psíquicos.
Eis algums diretrizes que nos podem ajudar a lidar com esta área tão sensível da espiritualidade:
1. A maioria quase absoluta dos sonhos é reflexo dos fatos que cercam a nossa existência, sem qualquer caráter profético. Todas as noites, enquanto estivermos dormindo, eles vaguearão por nossa mente e poderão ser até responsáveis por devaneios inusitados.
2. Os sonhos que vêm de Deus jamais contraditam a Bíblia. Ela continua sendo o parâmetro que define o certo do errado.
3. Ainda que determinados sonhos revelem algo da parte de Deus, isto não quer dizer que necessariamente venham a concretizar-se, pois têm como propósito servir de alerta para que a pessoa mude o curso da ação. Caso obtenham êxito, cumpriram sua finalidade. Jonas não se tornou um profeta falso por Deus não ter destruído Nínive. Todavia, se não houvesse arrependimento, o vaticínio ter-se-ia cumprido.
4. Mesmo que os sonhos sejam portadores de alguma advertência, não podem ser tomados isoladamente como referenciais de orientação. As circunstâncias, o testemunho interior do Espírito e, sobretudo, a Bíblia terão de assegurar que eles estão sendo instrumentos da parte de Deus para advertir sobre algum propósito.
5. Por último, via de regra, os sonhos pelos quais o Senhor nos fala costumam fixar-se em nossa mente a ponto de nunca mais nos esquecermos de seus detalhes.
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